Sobre a avareza

Em João 10:10, Jesus disse: “... eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.”

Muitos pegam esse versículo, isolam-no e traduzem-no como uma promessa de uma vida sem problemas e cheia de “bênçãos” de todos os tipos que imaginam para si e para sua família, especialmente nas áreas financeira e de saúde. Embora tal visão seja atraente para a carne, ela é, no entanto, uma distorção do evangelho, um falso evangelho. Particularmente no que diz respeito às riquezas, a verdadeira vida cristã não é uma vida que as busca. Como veremos, a Bíblia deixa bem claro que as riquezas não podem ser uma meta válida para um verdadeiro cristão. Como Paulo disse em 1 Timóteo 6:7-10:

1 Timóteo 6:7-10
“Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”

“Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.”: as únicas coisas de que precisamos, meu irmão e minha irmã, são comida e roupa. A palavra grega traduzida como “vestuário” aqui deveria ter sido melhor traduzida como “coberturas”. Tendo comida e coberturas - ou seja, um lugar para morar (para estar “coberto”) e roupas para nos vestirmos - devemos estar contentes. Isso é tudo o que precisamos! E isso é o que nosso Senhor nos prometeu prover, dizendo-nos para não nos preocuparmos com nada (Mateus 6:28-34)! Mas alguns não só se preocupam com essas coisas, como também querem ser ricos! No entanto, esta passagem — e muitas outras que veremos — não deixa dúvidas: desejar ser rico será fatal para nossa fé. Como acabamos de ler: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”. Veja que a passagem não se refere àqueles que são ricos, mas àqueles que querem ser ricos! Se alguém é pobre, mas quer ser rico, ele pertence àqueles a quem esta advertência se dirige. Por outro lado, alguém pode ser rico – sem realmente buscar isso – mas usar sua riqueza para os propósitos do evangelho, como alimentar os pobres, ajudar os órfãos, expandir o evangelho. Esta passagem, então, não se refere a ele. Mas ela se refere a quem quer ser rico. E, como o apóstolo diz muito claramente, a raiz de todo o mal é exatamente isso: o desejo de se tornar rico, o amor ao dinheiro, a ganância; em outras palavras, não se contentar com comida e roupas, mas sempre querer ter mais e mais. Como disse João Crisóstomo, um grande teólogo do século IV:

“Rico não é aquele que tem muitos bens, mas aquele que não precisa de muito. Da mesma forma, pobre não é aquele que não tem nada, mas aquele que quer ter muito. Se alguém quer ter muito, devemos considerá-lo o mais pobre de todos, mesmo que tenha mais dinheiro do que todos os outros juntos”.

Não é tanto a renda que alguém tem que define se ele é rico ou pobre, mas os desejos que ele tem. Se ele se contenta com comida e roupas, então ele é rico, pois não tem desejo por mais. Mas se ele não se contenta com comida e roupas, mas quer, por exemplo, morar em uma casa luxuosa, ter férias luxuosas, dirigir carros caros etc., então ele é, por causa de seus desejos, pobre. E para satisfazer esses desejos, ele quer se tornar rico, caindo então em tentação e em uma armadilha. Como o Senhor nos disse:

Mateus 16:24-27
“Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me; porque aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras.”

Imagine que conseguimos ganhar o mundo inteiro. Imagine que temos não só tudo o que desejamos, mas também o dobro e o triplo disso. Qual seria o lucro se, nesse processo, perdêssemos nossa própria alma? E com certeza: se seguirmos esse caminho, o caminho da avareza, o preço será nossa própria alma! Pois, como lemos anteriormente: o amor ao dinheiro é a raiz de todo o mal, cujo fim é a destruição e a perdição. Vamos lembrar aqui a parábola do homem rico insensato:

Lucas 12:15-21
“E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E propôs-lhes uma parábola, dizendo: a herdade de um homem rico tinha produzido com abundância. E ele raciocinava consigo mesmo, dizendo: O que farei? Não tenho onde recolher meus frutos. E disse: Farei isto: derrubarei meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e meus bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus. ”

Existe um desejo de se tornar rico que é abençoado e justificado: o desejo de ser “rico” em relação a Deus e ao Seu Reino. É o único desejo de ser rico que é justificado. Em contraste, querer ser rico neste mundo não só não é abençoado, como é equivalente a um desastre, pois afasta da fé e do verdadeiro evangelho aqueles que têm esse desejo. O Senhor contou a parábola acima exatamente para nos alertar sobre esse perigo. Como Ele disse:

Lucas 12:15
“E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.”

“Guardai-vos da avareza”! Afastai-vos, cuidado, então, de quem finge ser cristão e promete riquezas ou encoraja-vos a buscá-las. O desejo de ser rico não tem nada a ver com o verdadeiro cristianismo. Na verdade, a avareza é um pecado da mesma categoria que o adultério, a fornicação e o roubo, e aqueles que são gananciosos não entrarão no Reino de Deus. Paulo deixou isso claro:

1 Coríntios 6:9-11
“Não sabeis que os injustos não hão de herdar o Reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus. E é o que alguns têm sido, mas fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus.”

Antes de nos convertermos a Cristo, éramos algumas dessas coisas. Mas tudo isso foi lavado com o nosso batismo, que obviamente não é apenas uma cerimônia, mas algo muito importante, marcando o início de nossa nova vida em Cristo. Voltaremos então a essas coisas? Se o fizermos, se conscientemente quisermos viver uma vida de avareza, uma vida de correr atrás de coisas e riquezas, então não nos enganemos: não herdaremos o Reino de Deus! E veja também que a avareza está na mesma categoria que a fornicação, o adultério, a homossexualidade, a idolatria, etc.

Na verdade, para não deixar dúvidas, Paulo repete a mesma advertência em Efésios:

Efésios 5:1-8
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição e toda impureza ou avarência nem ainda se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm; mas, antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicador, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais seus companheiros. Porque, noutro tempo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz”

E novamente Colossenses 3:1-7
Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória. Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência e a avareza, que é idolatria; pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência; nas quais também, em outro tempo, andastes, quando vivíeis nelas.”

Como vemos, a questão da avareza, do amor ao dinheiro, é tão séria que o apóstolo advertiu sobre ela em várias de suas epístolas. Todas as igrejas locais precisavam saber! Ninguém deveria ser enganado! É por isso que ele repete a advertência três vezes. E a advertência é a mesma: a avareza – e as outras coisas mencionadas nas passagens acima – manterá aqueles que a praticam fora do Reino de Deus, a menos que se arrependam.

Nestas passagens, Paulo não fala por pessoas fora da igreja. Se o fizesse, significaria que um não cristão que não praticasse estas coisas entraria no Reino de Deus, mesmo que negasse Cristo. Mas isso é impossível. Portanto, são os membros, as pessoas da igreja, NÓS, a quem essa advertência se refere. Se nós – tendo sido lavados de nossos pecados, tendo conhecido a luz – cairmos nessas coisas e não nos arrependermos delas, então não entraremos no Reino de Deus. Porque a verdadeira fé, meus irmãos e irmãs, não é apenas uma confissão, mas uma caminhada. Uma caminhada em que, se cairmos, nos levantamos – por meio do arrependimento – e continuamos. Mas se negarmos levantar, se não nos arrependermos, então acontecerá o que essas passagens dizem e não devemos ter nenhuma dúvida sobre isso.

Como disse o Senhor:

Lucas 16:13
“Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou há de aborrecer a um e amar ao outro ou se há de chegar a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.”

Por mamom entende-se dinheiro. Não podemos servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo. É um ou outro. Enganamos a nós mesmos se pensarmos que sabemos melhor! E tenho certeza de que alguns de nós realmente nos enganamos sobre isso. Como o amor ao dinheiro é promovido pelo mundo inteiro e pela sociedade e, às vezes, até mesmo por alguns que fingem ser pregadores cristãos, ele é considerado de certa forma aceitável. É por isso que muitas das passagens que lemos até agora começam com as palavras: “Não vos enganeis” ou “cuidado”. A Palavra de Deus não tem uma visão contrária branda sobre o assunto, mas uma visão contrária severa, expressa como vimos em várias passagens.

Para resumir o que vimos até agora:

i. Não podemos servir a Deus e ao dinheiro.

ii. Os gananciosos não herdarão o Reino de Deus.

iii. O amor ao dinheiro é a raiz de todo o mal.

Para concluir, deixemos de lado qualquer desejo maligno e prestemos atenção às palavras do nosso Mestre, que nos disse para não nos preocuparmos com nada, mas buscarmos primeiro a Deus e o Seu Reino, e tudo o que precisamos nos será acrescentado. Não é maravilhoso e mais do que suficiente? Ele nos deu essa promessa imediatamente após a parábola do rico insensato que lemos acima:

Lucas 12:22-31
“E disse aos seus discípulos: Portanto, vos digo: não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo, mais do que as vestes. Considerai os corvos, que nem semeiam, nem ceifam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós do que as aves? E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura? Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras? Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. E, se Deus assim veste a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não pergunteis, pois, que haveis de comer ou que haveis de beber, e não andeis inquietos. Porque os gentios do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas. Buscai, antes, o Reino de Deus, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. ”

Nosso Pai conhece nossas necessidades e cuida de nós! É por isso que a epístola aos Hebreus nos instrui:

Hebreus 13:5-6
“Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei. E, assim, com confiança, ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador, e não temerei o que me possa fazer o homem.”

Não devemos dar lugar à avareza, mas contentar-nos com o que temos. Por quê? Porque Ele disse que nunca nos deixará nem nos abandonará. O Senhor, então, é nosso ajudador! Não temeremos! Não nos preocuparemos! Em vez disso, como disse Paulo:

Filipenses 4:6-7
“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. ”

Anastasios Kioulachoglou